5 passos para o banho de descarrego

Essa costuma ser uma dúvida muito comum para quem está chegando na religião, e por mais que recebamos orientações no terreiro, é normal nos depararmos com esse questionamento com certa frequência. Isso porque, cada casa vai apresentar sua forma de preparar o banho, dentro dos seus fundamentos e dentro da sua tradição. Além disso, a entidade pode passar uma orientação específica, diferente do que se pratica no terreiro, trazendo à tona as diferentes possibilidades de realizar esse ritual. Por isso, hoje eu trouxe um passo-a-passo de como eu faço os meus preparos. Não é nem do jeito certo, nem do jeito errado, mas é do jeito como eu aprendi ao longo dos anos e como funciona para mim. Por isso, se seu dirigente te orienta de outra forma, ou se você já possui algum direcionamento de alguma entidade, considere o que você já recebeu, ok?

  1. Escolha das ervas
    Por possuírem uma vibração própria, a escolha das ervas do banho não é aleatória. Ela é baseada em um objetivo. Por isso, ao selecionar as folhas ou flores para o banho, eu penso no que eu quero que aconteça. Pois bem, se é um banho para compor o preceito de dia de gira, eu penso em qual linha iremos trabalhar, ou em qual irradiação de Orixá seremos amparados no dia. Por exemplo, se for uma gira de caboclos com firmeza de Oxóssi, vou priorizar as ervas desse Orixá, somado ao objetivo que busco dentro da irradiação d’Ele (isso é para quando já não há uma orientação do dirigente, ok?).
    Mas, no caso desse momento de pandemia, onde não há giras, como fazemos essa escolha? Eu penso muito em como estou me sentindo e qual a minha necessidade neste momento, sabe?
    Se eu estiver me sentindo ansiosa, posso usar o banho de ervas com o objetivo de me acalmar e me equilibrar, e assim por diante.
    Neste momento, ter conhecimento sobre ervas é fundamental. O Adriano Camargo tem um estudo importantíssimo nesse sentido, onde ele classifica as ervas entre mornas, quentes e frias. Só por essa classificação, já conseguimos ter uma base para decidir qual erva usar. Dá um Google no nome do erveiro e conheça o trabalho dele, ein. Recomendo!
    Um ponto de atenção aqui: há diferença entre ervas secas ou frescas? Na prática, rola fazer com qualquer uma delas, mas em questão de energia ou objetivo pode mudar sim, ok? Inclusive, tenho passos um pouco diferentes quando é erva seca de quando é erva fresca.
  2. Colhendo as ervas
    Se as ervas forem frescas, do seu jardim, ao colhê-las converse com elas. Lembre-se que há vida nas plantas, e em respeito a essa vida é que devemos agir assim. Eu costumo conversar, peço licença e permissão para colher, explico para o que eu quero usar (até mesmo quando o objetivo é usar na cozinha) e respeitosamente retiro apenas o necessário para o banho. Não são necessárias grandes quantidades de ervas para um banho individual, tá? Responsabilidade sobre isso também é importante!
    Se as ervas forem secas, é semelhante o processo. Seguro as ervas na mão e amasso elas com os dedos, com o objetivo de “despertá-las” mesmo sabe? E, em oração, converso com as folhas, contando o objetivo e pedindo sua permissão para usar de sua energia vital para o meu ritual.
    Em síntese: agir de forma honesta e respeitosa no momento de colher as folhas e flores.
  3. Água quente ou água fria?
    Já ouvi muitas discussões sobre isso e já aprendi de formas diferentes também. E eu gosto de seguir um protocolo que eu mesma criei para me ajudar nessa decisão, rs:
    • Ervas Frescas: quando uso ervas frescas, eu coloco-as em um recipiente com um pouco de água fria, para amassar, quinar e extrair sua essência com as mãos. Ao fim, completo com um pouco de água morna para quente para usar no banho.
    • Caules ou ervas mais “grossas” e ervas secas: dependendo do que estou usando, por exemplo, casca de uma árvore, eu amasso nas mãos, mas coloco em um recipiente direto com água quente, pois entendo que seu processo de extração é um pouco mais difícil do que da folha. Espero esfriar para aí sim quinar, cortar e amassar com as mãos na água.
    • Sais minerais ou pedras: nestes eu fervo a água, desligo e acrescento as pedras ou sal na água e deixo esfriar com um pano branco tampando o recipiente.
  4. Faça uma oração
    Como toda magia ou como todo ritual que fazemos, é preciso ativar, e fazemos isso com palavras e intenção. Então, eu faço uma oração. Não precisa acender vela, é legal ter, mas não me limito por isso, sabe? Se eu quero preparar o banho e já tomar em seguida, não acendo nenhuma vela. Se tenho condições de firmar a chama, faço. Eu começo a oração a partir do momento em que inicio o preparo, lá na tomada de decisão. Enquanto colho e quino as ervas, vou mentalizando para o Orixá o que eu quero, pedindo proteção, pedindo seu axé e atuação naquele banho.
  5. Joga da cabeça pra baixo ou do pescoço para baixo?
    Aqui também há uma certa polêmica, e quero deixar claro que respeito toda e qualquer opinião. Quando um guia ou dirigente me orienta a jogar o banho do pescoço para baixo, eu assim o faço. Mas não vejo problemas em usar o banho do Ori pra baixo, pois tudo depende do contexto. Precisamos lembrar que não existem ervas ruins (existem ervas tóxicas para o nosso uso, isso sim), o que determina o seu banho de descarrego é o objetivo, lembra? Então, aqui vale muito do seu conhecimento sobre ervas e da sua intuição.

EXTRA: Além das ervas, e das combinações entre ervas, é possível combiná-las com outros elementos, como pedras, cristais, minerais, luz da lua, luz do sol, água da chuva, da cachoeira… etc. São infinitas as possibilidades, e o importante, no momento de escolha, é ter bom senso. Se não sabe, não inventa moda, mas também não deixe de seguir sua intuição. Busque pelo conhecimento e essas coisas vão fluir de forma mais natural, mas se ainda houver dúvidas, sempre pergunte a seu/sua dirigente.

Esses são os passos que eu sigo quando faço meus banhos. É claro que fui aprendendo aos poucos sobre isso, e entendo que é um aprendizado contínuo. Cada orientação que recebo da minha mãe-de-santo ou de alguma entidade, um livro, um curso ou vídeo no youtube me ensina algo novo. E o mais legal é justamente isso, a oportunidade de aprender a cada prática, a cada gira, e abrir-se para esse mundo maravilhoso e simples da umbanda é abrir-se para aprender cada vez mais e tornar-se cada vez mais livre para fazer suas próprias escolhas e depender menos da espiritualidade para coisas tão cotidianas.

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